segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

TEXTO VII - baseado no livro Memórias D'África (Carlos Serrano, ed Cortez)


VII RESISTÊNCIAS E LUTAS PELA INDEPENDÊNCIA, DESAFIOS E OPORTUNIDADES


No final das contas, o predomínio tecnológico de armas e metralhadoras não permitiu uma luta igual entre africanos e europeus, e permitiu apenas marcar oposição baseada, muitas vezes, na coragem, contra os europeus. A colonização europeia deixou também alguns resquícios que podem ser vistos como benefícios, como uma malha ferroviária, estradas, pontes, linhas de telégrafo e portos capazes de receber navios de grande peso. O aprendizado de línguas europeias foi obrigatório da noite para o dia porque tais línguas tornaram-se oficiais. Escolas e hospitais foram erguidos e algumas doenças epidêmicas foram erradicadas. Mas todos esses aspectos “positivos” só foram criados por europeus por sua necessidade, sem visar os súditos africanos.

Assim, apesar da conquista do continente ter sido justificada em nome de uma “civilização”, não foi assegurada qualquer transferência de conhecimento tecnológico e científico. A implantação de escolas, quando ocorreu, procurou organizar mentalmente o africano para ser colonizado e pacificado, onde o essencial não era o entendimento da realidade daqueles sujeitos, mas antes usá-los como objeto de uma ideologia, a Europa como centro do mundo. É bom que se diga, algumas potências europeias nem estavam em condições de transmitir algo referentes à escolas, como o caso de Portugal, que, em 1878, somava 82,4% de analfabetos no país.

A tomada de consciência de que esse regime era ilegítimo, inaceitável e propenso a barbaridades de todo tipo que induziu nos africanos o desejo de colocar fim na dominação colonial. Assim o continente assistiu à lutas por independência.

Négritude foi um movimento político-literário que ganhou força no século passado. Os escritores pertencentes a esse grupo tinham em comum a rejeição à dominação colonial francesa, a ênfase na solidariedade e na união do mundo negro e a denúncia do racismo.

O Pan-africanismo é outro movimento político, crítico do racismo e do colonialismo, tendo como objetivo a libertação e unificação dos africanos. Esse movimento começou primeiro com os afrodescendentes nas Américas – principalmente EUA e Caribe. A motivação era a unidade do mundo negro em sua totalidade, focando a releitura da África e resgate das origens culturais. Assim temos artistas, escritores e intelectuais como Bob Marley (Jamaica), Abdias Nascimento (Brasil), Walter Rodney (Guiana) e Malcom X (EUA). O Pan-africanismo encontrou forte enraizamento no continente africano também.

De modo geral, uma elite africana, surgida na época da colonização com o contato com os europeus, assumiu o papel de testas de ferro dos europeus, atuando reproduzindo os padrões culturais das ex-metrópoles. Desse modo, o colonialismo se transformou num movimento mais sutil, o neocolonialismo. Agora, a dominação não é mais através de armas, mas através de empréstimos, colonização cultural e controle de mercado.

O resgate das religiões tradicionais é uma das formas possíveis de retomar suas formas de vida e assim os africanos podem pensar em desenvolver suas economias, como a recuperação das técnicas da construção de terra batida, mais ecológicas, baratas e termicamente eficientes do que os modelos que tomam por referência as tecnologias vindas da Europa. A África, apoiada na tradição, pode refazer a sua compreensão do mundo, repensando criativamente o passado e seu futuro.